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ANITA MALFATTI – 120 ANOS DE IMORTALIDADE

Nu Cubista, óleo sobre tela, 1915-16

O Centro Cultural Banco do Brasil, unidade Distrito Federal inaugurou esta semana uma Exposição que comemora os 120 anos de nascimento da pintora, ilustradora, desenhista, gravurista e professora, Anita Catarina Malfatti.

São trabalhos de diversas fases da artista. Trabalhos que a consagraram no Brasil e no exterior. Anita não foi uma artista de fácil compreensão, pois frágil, insegura e cercada de dúvidas e desencontros, essa pioneira da Arte Moderna está sendo muito bem lembrada, diga-se de passagem, por essa retrospectiva de sua obra que destacará sua competência e versatilidade artística.

Sua inconstância criativa municiou os críticos inimigos, como José Bento Monteiro Lobato, e comentários críticos de amigos mais chegados. Mas, o que não chega a ser demérito numa cronologia artística tão produtiva e de grande importância no segmento das Artes Plásticas. Monteiro Lobato chegou a publicar o artigo “Paranóia ou mistificação? A propósito da Exposição  Malfatti” no respeitado jornal O Estado de São Paulo, onde era crítico. Mas especula-se que o ataque violento à obra exposta e à autora tenha sido pessoal, uma vez que o referido crítico nutria o sonho de se tornar um pintor conhecido, tal como a sua vítima. Especulação ou constatação o fato é que, a partir das palavras pouco vangloriosas a respeito de sua obra, Anita e seus amigos delinearam um dos maiores acontecimentos culturais da história desse país – A Semana de Arte Moderna.

Lobato diria a respeito da obra de Anita em seu artigo:

“Essas considerações são provocadas pela exposição da Sra. Malfatti onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias  de Picasso e companhia.”

e mais:

“Sejamos sinceros: futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam de outros tantos ramos da arte caricatural. (…) Caricatura da cor, caricatura da forma – caricatura que não visa, como a primitiva, ressaltar uma idéia cômica, mas sim desnortear, aparvalhar o espectador.”

Tropical, óleo sobre tela, 1917.

Comentários que empobrecem um dos gênios da literatura brasileira. Mas uma coisa certamente provoca inquietação – Quanto sabia, ou melhor, entendia de arte Monteiro Lobato para escrever com tamanha irritação e violência. Wassily Kandisnky, importante pintor russo do século retrasado costumava dizer que “ Arte não é pra se entender e sim para sentir”. Se fosse levar em consideração esta máxima do artista Lobato estaria expressando, de forma visceral, o seu conceito de Experiência Estética, mas esqueceu de considerar que como critico deveria esclarecer à miúde os motivos que o levaram a humilhar a coleção apresentada pela artista. O que ele fez foi no mínimo antiético, mas seria possível elencar um cem motivos para o explicar o seu despeito e arrogância, que na verdade se refletem até hoje como a mais ampla ignorância estética já lida em um jornal de grande circulação. Foi um verdadeiro tiro no pé, pois catapultou a obra da artista, mas em se tratando de Anita Malfatti, puro sentimento, também fez com que ela nunca mais fosse a mesma pessoa.

A Retrospectiva, que acontecerá até 25 de abril, trás obras de colecionadores até então nunca reunidas num único espaço. Os brasileiros terão a oportunidade de rever e/ou conhecer obras em que Anita teve forte influência de autores que na época já eram mundialmente consagrados como Henri Matisse e Bonnard. Com as telas “Interior de Mônaco, “Chinesa”, “La chambre Bleue”. Anita consagra essa influência e ao mesmo tempo rompe com a vanguarda e retoma o academicismo.

Interior de Mônaco, óleo sobre tela colado na madeira, 1925.

Quem estiver na terra dos candangos pode conferir esta belíssima homenagem e reconhecimento a uma das inspiradoras da revolução da arte brasileira. Esperamos que esta retrospectiva seja itinerante e outros estados brasileiros também possam se deleitar com as obras de Anita Catarina Malfatti.

Fonte das imagens: http://www.passeiweb.com/saiba_mais/arte_cultura/galeria/anita_malfatti/2#

Referência bibliográfica:

Lobato, José Bento Monteiro. “Paranóia ou mistificação? A propósito da Exposição Malfatti”, Jornal O Estado de São Paulo, SP, 20/12/1917.